terça-feira, 24 de maio de 2011

Luís Fernando Veríssimo.

  Ontem conversando com um querido amigo a respeito dos temperamentos de alguns pintores, relembrei um texto de Luís Fernando Veríssimo que me fez companhia em janeiro de 2008, período com muita neve, dias muito curtos e sombrios que me deixariam profundamente deprimida, não fossem os textos muito bem humorados do autor.
  Sobre Pablo Picasso e seu ego monstruoso.
   "Se um dia você estiver precisando de um exemplo de pretensão, conte esta história. 
Dizem que o Picasso nunca tinha dinheiro no bolso. Quando ele terminava de jantar num restaurante, o dono aproximava-se da mesa com a nota, esperançoso, e perguntava se ele ia pagar ou assinar. Picasso fazia uma mímica de procurar dinheiro nos bolsos, mas sempre acabava assinando a nota, que o dono do restaurante mandava emoldurar e depois vendia como um Picasso autêntico, por muito mais, é claro, do que o valor do jantar. Se a comida estivesse especialmente boa ou se o seu grupo fosse muito grande, Picasso não assinava apenas a nota. Fazia um rápido desenho na toalha, que, depois, mesmo com as manchas de comida, passava a valer uma pequena fortuna. Ou então fazia uma rápida escultura com miolo de pão e palitos. Quando precisava mandar buscar alguma coisa no armazém, Picasso rabiscava uma pomba ou uma odalisca num papel e dava para a empregada pagar a conta. Certa vez, a empregada saiu para fazer o rancho levando um bico-de-pena razoavelmente bem acabado – a conta seria grande – e voltou com as compras e mais um horrível desenho feito em papel de embrulho e assinado embaixo pelo dono do armazém, Monsieur Pinot.
– O que é isso? – quis saber Picasso, segurando o papel com a ponta dos dedos.
– É o troco – explicou a empregada. Desse dia em diante, dizem, Picasso olhava com respeito, cada vez que passava pelo armazém de Monsieur Pinot. Tinha encontrado um ego maior que o seu."
VERÍSSIMO, Luís Fernando. Traçando Paris. Porto Alegre: Artes e Ofícios Editora,1999. p. 85 e 86.

Pablo Picasso pintando a obra Guernica. Fotografia de Dora Maar.







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