quinta-feira, 7 de abril de 2011

Aos meus amigos japoneses.

  Eu estive várias vezes no Japão. Como coordenadora do Intercâmbio Brasil–Japão convivi com muitos estudantes e professores japoneses. E por conta das viagens e das visitas de delegações japonesas a Curitiba aprendi a admirar muito o povo do Império do Sol Nascente.



  

   Nas vezes em que lá estive pude apreciar a hospitalidade de famílias japonesas que me receberam em suas casas e partilharam seus dias comigo. E talvez, por essa proximidade, é que eu tenha recebido as notícias do terremoto, seguido por um tsunami, com tanto pesar e consternação.
  Minha primeira reação ao saber do tsunami de 11 de março foi enviar e.mails para todos os meus queridos amigos e conhecidos. Muitos deles me responderam quase que de imediato que estavam bem, pois Himeji fica distante da região atingida. Alguns demoraram vários dias para enviar apenas um “Lys, don´t worry. I´m ok. Thank you.” Mensagens curtas enviadas em um período em que o país necessita de economia de energia e no qual há tantas ações mais importantes e urgentes. Tranquilizar uma amiga do outro lado do planeta não era prioridade, mas mesmo assim recebi respostas que incluíam agradecimentos pela minha preocupação.
   Há aqueles que afirmem que o povo japonês é muito reservado e não expressa seus sentimentos. Talvez nenhum povo na face da Terra seja tão efusivo quanto o brasileiro, mas a quietude dos japoneses nada tem de frieza. Em todas as vezes em que me despedi de uma família japonesa as lágrimas estavam presentes, seguidas de muitos e.mails e cartas com desejos de feliz aniversário ou de melhoras, em busca de novas notícias.





   A cultura japonesa é fascinante! E a grande magia de uma viagem é entrar em contato com costumes e visões de mundo diferentes. Não há quem não volte de uma viagem mudado. E a mudança é sempre para melhor, pois sempre adquirimos alguma informação nova, sempre adotamos em nossa vida algum hábito que aprendemos com o outro, nos livramos de alguns costumes que percebemos nocivos, além de sempre deixarmos algo de nosso com ele. Marco Polo já experenciava toda essa troca cultural durante o século XIII, quando viajar significava uma longa ausência, muitos perigos, barreiras culturais quase intransponíveis e longos caminhos a galgar.
   Passado o susto inicial e com a certeza de que meus amigos estavam bem, apesar dos milhares de mortos, me peguei a pensar em todos os templos, parques, castelos e jardins que havia visitado. Será que eles ainda estariam lá? E aquelas pequenas cidades tão organizadas e limpas? Tudo fruto do trabalho incansável de um povo que se reergueu após a detonação de duas bombas atômicas.





   Parece-me evidente que o Japão irá reconstruir toda a região afetada e nós ainda teremos favelas e vilas surgidas da ocupação ilegal de encostas no Brasil.
   É por esse motivo que devemos admirar a obstinação e o trabalho duro realizado pelos nossos irmãos japoneses e tomá-los como exemplo no esforço de construir um país menos desigual, mais justo e honesto.
   Talvez a mais bela lição que a humanidade recebeu do Japão esteja lá no centro da atual Hiroshima: o Memorial da Paz. Após a terrível destruição causada pela bomba atômica, lançada em 06 de agosto de 1945, a maioria dos povos exigiria a vingança e a reparação para os danos que não poderiam ser reparados. Os japoneses reconstruíram Hiroshima “de menos que o nada”, pois “começar do nada” significa iniciar a construção em terreno limpo. Os japoneses tiveram que retirar os escombros, enterrar os mortos e conviver com a radiação. Mesmo assim reconstruíram a cidade, curaram suas feridas, constituíram famílias. E no centro da nova cidade e da vida dos habitantes de Hiroshima há um parque que mantém uma chama acesa que só será apagada quando o último armamento nuclear for eliminado.



Memorial da Paz, Hiroshima. A chama eterna,
bem no centro do Memorial.

  Eu tive a sorte de visitar Hiroshima com adolescentes que assim como eu, ficaram muito comovidos e pensativos. E afirmo que tive a sorte em tê-los como companheiros porque as decisões políticas e econômicas, em poucos anos, serão deles. Eu espero que quando estivem no comando, tomando decisões que afetarão populações inteiras, eles não se esqueçam daquele dia em Hiroshima...

Memorial da Paz, Hiroshima. Momumento em homenagem à
Sadako Sasaki,a garotinha que em busca da cura para a
leucemia inciou a confecção de 1000 tsurus (pássaros em
origami). Atualmente,  todos aqueles que visitam o memorial
"auxiliam" Sadako, depositando tsurus ao redor do momumento.


Assembléia Legislativa de Himeji


O Complexo de mosteiros serviu de locação para o filme O último samurai.
Meditação no Mosteiro do Monte Shosha.







Escola de Caligrafia.





Um comentário:

  1. Olá, gostei muito do seu post, ate me emocionei com a sua historia, não sabia que os japoneses tinham emoções, tenho vontade de conhecer o país mas ainda tenho outras prioridades; ainda sim, tenho um pedido do S2 para fazer, como eu faço para conversar com esse povo, eu sinto que não sou apenas do Brasil, mais da metade do meu ser esta no Japão, por favor, eu te imploro, não achei nada em relação a mandar nem cartas, nem emails para pessoas que moram tão longe, querida amiga (se posso te chamar assim), seja a ponte para isso. ありがとう, Allan.

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