Eu não sei se acontece com todas as pessoas que se aproximam dos 50 anos, mas comigo alguns questionamentos que já vinham ocorrendo há um longo tempo, agora estão mais prementes e intensos.
E um dos grandes questionamentos que me afligem é tentar entender porque as pessoas querem mais TER do que SER.
Fui criada em uma família na qual ter uma profissão, trabalhar e fazer a diferença era uma das razões para se estar vivo. Ter conforto material e poder desfrutar de alguns privilégios como ter casa própria, uma casa na praia, um automóvel e poder viajar eram sempre encarados como conquistas, fruto de muito trabalho. Entretanto, nunca tivemos carros importados ou residências que se parecessem com mansões. Meus pais sempre valorizaram muito mais o estudo. Todo o gasto voltado para a aquisição de conhecimento sempre foi tratado como prioridade.
Ao longo de minha vida profissional sempre tive a sorte ou a recompensa de um bom salário, suficiente para todas as despesas e ainda uma reserva para os "períodos difíceis". Confesso que hoje, olhando para trás, tenho a consciência de que em alguns momentos gastei dinheiro com coisas inúteis e supérfluas. Dinheiro que nos dias de hoje eu empregaria de melhor forma. Mas posso com certeza afirmar que minha biblioteca é considerável e que o investimento em estudo e capacitação profissional sempre fizeram parte de minha vida.
Assim, me assolam mais dúvidas: Por que as pessoas gastam tanto com objetos que servem apenas para marcar o status social? Por que trabalham tanto para comprar e manter uma casa segura e aconchegante que só é utilizada para as poucas horas de sono? Por que comprar o sofá confortável e a TV com tecnologia mais avançada se, por falta de tempo ou por esgotamento físico, não se pode usufruir das novas aquisições?
Há algumas semana recebi um e.mail do meu querido amigo Geovani que trazia ao final do texto o seguinte pensamento: "Não eduque seu filho para ser rico, eduque-o para ser feliz. Assim, ele saberá o VALOR das coisas e não o seu PREÇO. Você pode dar uma festa sem dinheiro, mas não sem amigos."
O pensamento presente no e.mail de meu querido amigo só aumentou minhas reflexões sobre a importância demasiada que se dá à produção, à produtividade, à competitividade e ao consumo. E fico eu cá pensando por que nos sujeitamos à essa vida pautada muitas vezes pela solidão e pela falta de vínculos afetivos mais significativos em nome da produção? É óbvio que todos temos que ganhar a vida, mas isso não significa perdê-la em troca de um salário ou de uma posição social.
Amo imensamente a minha profissão de historiadora e acredito que até o fim dos meus dias estarei envolvida com o meu trabalho, pois ele me define. Entretanto, após ter tomado a decisão de reduzir minha carga horária de trabalho e funções e, consequentemente também meu salário, tenho provado que é possível trabalhar, ser produtivo e voltar a sentir pequenos e grandiosos prazeres na vida que haviam ficado para trás: Ler todos os livros que aguardavam em uma imensa pilha; conviver intensamente com os meus familiares; poder dar atenção para todos os meus queridos ex-alunos; assistir a um filme sem olhar ansiosa para o relógio no afã de que, apesar de maravilhoso, acabe para que eu possa voltar ao trabalho atrasado; escrever longos e.mails para todos os meus queridos amigos japoneses que passaram pelo terremoto e pelo terrível tsunami; alimentar esse blog e ainda poder dar atenção a todos a quem amo e que são importantes em minha vida.
Estou vivenciando a mensagem do e.mail de meu querido Geovani: pode-se viver com menos dinheiro, mas não se pode viver sem a proximidade daqueles a quem amamos.
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