quarta-feira, 5 de maio de 2010

A leitura prazerosa no mundo atual.

  Muitos afirmam que não dispõem de tempo para ler. A vida é muito corrida e somos atropelados por tantas atividades que as 24 horas do dia são poucas para fazer algo que não esteja no rol de nossas obrigações. É obvio que nossa vida não é nem de longe contemplativa, mas sou da opinião que muito em nossa vida é uma questão de opção. Tempo é uma das categorias que se enquadram na possibilidade das  opções. Assim, para os que realmente apreciam uma boa leitura sempre é possível encontrar alguns minutos no dia ou na semana. É obvio que para que possamos ler é necessário abdicar de algumas outras atividades. Há muitos anos que não assisto novelas e, quanto ao Big Brother, nunca perdi um segundo de meu tempo cuidando da vida alheia.
  Adorei o filme O clube de leitura de Jane Austen. E quando o assunto é falta de tempo ou contratempo, a abertura do filme é exemplar, pois retrata o cotidiano que todos nós vivemos em uma sociedade que só quer de nós produtividade e competitividade.



   O clube formado pelos leitores de Jane Austen não só serviu para partilhar e aprofundar o gosto pela leitura, mas aproximou pessoas solitárias, confortou aquelas que passavam por crises causadas pela separação ou pela morte, além de possibilitar novas paixões. E o fator que uniu todas aquelas vidas e experiências foram histórias escritas por uma jovem igualmente solitária que viveu na Inglaterra no século XVIII. Tal fator comprova que a leitura, não importa se contemporânea ou não, contribui na aproximação de pessoas.

Alberto Manguel nos dá um belo exemplo que comprova a afirmação acima:
   Entre as novas encarnações das bibliotecas, há algumas que dispensam (ou não podem pagar) as novas tecnologias. Em 1990, o ministério da Cultura colombiano instituiu uma organização de bibliotecas itinerantes que deveria levar livros aos rincões mais afastados do país. Os ônibus-biblioteca vinham circulando desde 1982 pelos bairros de Bogotá, mas agora o governo queria alcançar os habitantes das regiões rurais mais distantes. Para isso, criou-se uma espécie de grande sacola verde, com compartimentos espaçosos, fácil de dobrar e feita para transportar livros em lombo de burrico, subindo e descendo pelas matas e serras. Em cada aldeia, os livros são deixados por várias semanas nas mãos de um professor ou ancião que se torna, de facto, o bibliotecário responsável. As sacolas são desdobradas e penduradas em um poste ou árvore, para que a população local folheie e escolha os livros. Por vezes os bibliotecários lêem em voz alta, para os que não sabem ler; outras vezes, um membro da família que foi à escola lê para os outros. “Assim”, explicou um dos aldeões numa entrevista, “ficamos sabendo do que não sabíamos e passamos adiante para os outros.” Esgotado o prazo, uma nova leva é mandada para substituir a anterior. Em sua maioria, os livros são obras técnicas, manuais de agricultura e saneamento, livros de costura e guias veterinários, mas há também alguns romances e outras obras literárias. Segundo uma bibliotecária, os livros são sempre tratados com cuidado. “Só sei de um caso de livro não devolvido”, ela contou.Além dos títulos práticos de sempre, levamos uma Ilíada em espanhol. Quando chegou a hora de devolvê-la, os aldeões se recusaram. Decidimos presenteá-la, mas antes perguntamos por que queriam ficar com aquele título em especial. Explicaram que a história de Homero refletia a sua própria história: um país dilacerado pela guerra em que os deuses desvairados decidem como querem o destino dos homens, que nunca sabem muito bem por que estão lutando ou quando vão ser mortos.
   Como sabem esses remotos leitores colombianos, nossa existência flui, como um rio impossível, em duas direções: da massa infinita de nomes, lugares, criaturas, estrelas, livros, rituais, memórias, iluminações e pedras que chamamos mundo rumo ao rosto que nos mira toda manhã do fundo de um espelho; e desse rosto, desse corpo que circunda um centro que não podemos ver, disso que nos nomeia sempre que dizemos “eu”, para tudo o mais que é o Outro, que está fora, além. A consciência do que somos individualmente, unida à consciência do que somos coletivamente cidadãos de um universo inconcebível, confere alguma espécie de sentido a nossa vida – um sentido posto em palavras pelos livros de nossas bibliotecas.
MANGUEL, Alberto. A biblioteca à noite. São Paulo: Cia das Letras, 2006. p.190 - 192.

  Quando viajo sempre carrego comigo livros que versam sobre os lugares que visitarei. Também filmes cujas histórias tem a ver com os lugares por onde passarei. Na verdade, vários meses antes do início da viagem estudo muito sobre a história, a arquitetura e a literatura dos lugares que irei ver com meus próprios olhos. Assim a alegria da viagem começa bem antes da partida e nunca termina, pois sempre há alguma leitura que me faz relembrar ou ensina mais sobre os lugares que conheci.

Nenhum comentário:

Postar um comentário