A década de 1920, especialmente em Paris, exerce sobre mim grande fascínio. Muito já li sobre o período e seus principais protagonistas. Desde Hemingway com o seu Paris é uma festa, passando por Ezra Pound, Gertrude Stein, T. S. Elliot, James Joyce, Sylvia Beach, John dos Passos, continuando com muitos autores que não pertenceram a chamada "Geração perdida", mas que estudam sobre o período e nos brindam com mais informações, além de novos pontos de vista sobre o período.
Após o horror causado pela Primeira Guerra Mundial e suas terríveis trincheiras, é compreensível que aqueles que viram o conflito de perto e sobreviveram, desejassem festejar os dias que roubaram da morte anunciada. Acredito mesmo que só é possível compreender a década de 1920 e a euforia que reinava em Paris, apesar da fome, do pouco ou nenhum dinheiro e das habitações precárias, dentro do contexto de alívio pelo fim da guerra.
Há poucos dias terminei a leitura da obra de William Wiser Os anos loucos: Paris na década de 1920. Uma leitura deliciosa que, de maneira geral, pouco acrescenta de novo às outras leituras que já realizei. Entretanto, apresenta algumas informações sutis e interessantes, das quais ainda não tinha conhecimento. Posso citar como exemplo a descrição da morte e do funeral de Amadeo Modigliani (logo no início da obra) e a rejeição sofrida por Isadora Ducan no fim de sua vida. E talvez a parte referente à bailarina tenha sido o trecho da obra que mais me tocou.
Isadora Duncan foi um dos maiores ícones da dança no início do século XX. Há quem diga que ela, até a atualidade, continua ímpar e nunca superada.
Nascida em 1877, em San Francisco, foi na Europa que Isadora conquistou sucesso e fama. Foi considerada a criadora do balé moderno ao realizar coreografias que eram inspiradas na Antiguidade Clássica ao som dos mais variados tipos de músicas. O figurido sempre lembrava as túnicas gregas e os movimentos eram livres.
Isadora causou grande espanto quando utilizou composições clássicas como as de Chopin em suas apresentações, pois até então as composições clássicas deveriam ser apenas ouvidas.
A mim parece que à sua maneira, Isadora estava a frente de seu tempo. Tal como Gertrude Stein, Sylvia Beach e tantas outras.
Ela se casou três vezes e as tragédias sempre estiveram presentes em sua vida. Seus dois filhos morreram afogados no rio Sena e seu terceiro marido, o poeta russo Serguei Esenin, cometeu suicídio. A morte da bailarina foi igualmente trágica: ela teve o pescoço quebrado quando a echarpe que usava se prendeu à roda do automóvel conversível que dirigia.
Segue o fragmento da obra citada acima:
No final do verão de 1927, Isadora Duncan entrara num automóvel para dar um passeio pela Promenade des Anglais em Nice. Ao arrancar, ela gritou para uns amigos: "Adeus, amigos, vou à glória." Quando o automóvel ganhou velocidade, a longa estola que Isadora arrastava - parte do estilo fluído e de caimento espontâneo que ela sempre gostava de vestir - agarrou numa das rodas. Ela quebrou o pescoço e teve morte instantânea.
O cortejo fúnebre de Isadora Duncan constituiu-se de apenas cinco carruagens que se arrastaram dando voltas para o cemitério de Pere Lachaise. O governo Francês ignorou o fato, apesar de Isadora ter sido grande amiga da França: por sua conta, alugara o Metropolitan Opera House, em Nova York, para defender a causa e levantar fundos para a França, quando foi deflagrada a Primeira Guerra Mundial; depois, cedera seu château Bellevue, em Neuilly, para servir de hospital para feridos franceses. Nenhum dos amigos franceses de Isadora acompanhou seu caixão.
Logo após a Revolução Russa, Isadora Duncan, casada com o poeta russo Sergei Esenin, havia aberto uma escola de dança em Moscou: o único tributo floral que se impunha em seu funeral vinha da Rússia - "O coração da Rússia chora por Isadora". O coração da Rússia chorava por ela, mas a face da França olhou para o outro lado.
WISER, Willian. Os anos loucos: Paris na década de 1920. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009. p. 220.
Após ler sobre o funeral solitário de Isadora Duncan e o desprezo por parte dos franceses, a quem ela tanto auxiliou, me veio a certeza que nem sempre somos recompesados pelo bem que promovemos.
Não posso deixar de postar meu agradecimento, agradecimento por essa preciosa página na web, incrível, de um bom gosto enorme, ainda mais vindo de Lysvânia Vilela, o blog é rico, repleto de informações provindas de uma historiadora MAIS que inteligente e perfeita. Tenho que parabenizar pelo BLOG, está realmente MUITO BOM.. um beijo minha mãezinha
ResponderExcluirThalis