sábado, 5 de junho de 2010

Isadora Duncan

   A década de 1920, especialmente em Paris, exerce sobre mim grande fascínio. Muito já li sobre o período e seus principais protagonistas. Desde Hemingway com o seu Paris é uma festa, passando por Ezra Pound, Gertrude Stein, T. S. Elliot, James Joyce, Sylvia Beach, John dos Passos, continuando com muitos autores que não pertenceram a chamada "Geração perdida", mas que estudam sobre o período e nos brindam com mais informações, além de novos pontos de vista sobre o período.
    Após o horror causado pela Primeira Guerra Mundial e suas terríveis trincheiras, é compreensível que aqueles que viram o conflito de perto e sobreviveram, desejassem festejar os dias que roubaram da morte anunciada. Acredito mesmo que só é possível compreender a década de 1920 e a euforia que  reinava em Paris, apesar da fome, do pouco ou nenhum dinheiro e das habitações precárias, dentro do contexto de alívio pelo fim da guerra.
   Há poucos dias terminei a leitura da obra de William Wiser Os anos loucos: Paris na década de 1920. Uma leitura deliciosa que, de maneira geral, pouco acrescenta de novo às outras leituras que já realizei. Entretanto, apresenta algumas informações sutis e interessantes, das quais ainda não tinha conhecimento. Posso citar como exemplo a descrição da morte e do funeral de Amadeo Modigliani (logo no início da obra) e a rejeição sofrida por Isadora Ducan no fim de sua vida. E talvez a parte referente à bailarina tenha sido o trecho da obra que mais me tocou.
  Isadora Duncan foi um dos maiores ícones da dança no início do século XX. Há quem diga que ela, até a atualidade, continua ímpar e nunca superada.
   Nascida em 1877, em San Francisco,  foi na Europa que Isadora conquistou sucesso e fama. Foi considerada a criadora do balé moderno ao realizar coreografias que eram inspiradas na Antiguidade Clássica ao som dos mais variados tipos de músicas. O figurido sempre lembrava as túnicas gregas e os movimentos eram livres.
   Isadora causou grande espanto quando utilizou composições clássicas como as de Chopin em suas apresentações, pois até então as composições clássicas deveriam ser apenas ouvidas.
   A mim parece que à sua maneira, Isadora estava a frente de seu tempo. Tal como Gertrude Stein, Sylvia Beach e tantas outras.
   Ela se casou três vezes e as tragédias sempre estiveram presentes em sua vida. Seus dois filhos morreram afogados no rio Sena e seu terceiro marido, o poeta russo Serguei Esenin, cometeu suicídio. A morte da bailarina foi igualmente trágica: ela teve o pescoço quebrado quando a echarpe que usava se prendeu à roda do automóvel conversível que dirigia.
  Segue o fragmento da obra citada acima:
   No final do verão de 1927, Isadora Duncan entrara num automóvel para dar um passeio pela Promenade des Anglais em Nice. Ao arrancar, ela gritou para uns amigos: "Adeus, amigos, vou à glória." Quando o automóvel ganhou velocidade, a longa estola que Isadora arrastava - parte do estilo fluído e de caimento espontâneo que ela sempre gostava de vestir - agarrou numa das rodas. Ela quebrou o pescoço e teve morte instantânea.
   O cortejo fúnebre de Isadora Duncan constituiu-se de apenas cinco carruagens que se arrastaram dando voltas para o cemitério de Pere Lachaise. O governo Francês ignorou o fato, apesar de Isadora ter sido grande amiga da França: por sua conta, alugara o Metropolitan Opera House, em Nova York, para defender a causa e levantar fundos para a França, quando foi deflagrada a Primeira Guerra Mundial; depois, cedera seu château Bellevue, em Neuilly, para servir de hospital para feridos franceses. Nenhum dos amigos franceses de Isadora acompanhou seu caixão.
   Logo após a Revolução Russa, Isadora Duncan, casada com o poeta russo Sergei Esenin, havia aberto uma escola de dança em Moscou: o único tributo floral que se impunha em seu funeral vinha da Rússia - "O coração da Rússia chora por Isadora". O coração da Rússia chorava por ela, mas a face da França olhou para o outro lado.
WISER, Willian. Os anos loucos: Paris na década de 1920. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009. p. 220.

 Após ler sobre o funeral solitário de Isadora Duncan e o desprezo por parte dos franceses, a quem ela tanto auxiliou, me veio a certeza que nem sempre somos recompesados pelo bem que promovemos.



    

Um comentário:

  1. Não posso deixar de postar meu agradecimento, agradecimento por essa preciosa página na web, incrível, de um bom gosto enorme, ainda mais vindo de Lysvânia Vilela, o blog é rico, repleto de informações provindas de uma historiadora MAIS que inteligente e perfeita. Tenho que parabenizar pelo BLOG, está realmente MUITO BOM.. um beijo minha mãezinha

    Thalis

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